Relações emocionais entre adultos, sejam de amizade ou amorosas, têm um componente de sucesso primordial: o respeito.
Aquele respeito que nem se arroga nem se curva – refiro-me ao respeito de almas que se reconhecem como soberanas em seus processos profundos, em suas vontades e pulsões.
Em termos sistêmicos, refiro-me a relações entre iguais, que envolvem trocas e equilíbrio numa relação de amor que é *condicional*.
Quando respeito o caminho e a expressão do outro, crio espaço para respeitar meus próprios limites e *comunicá-los da forma mais rápida e clara possível*.
Muitas vezes, quando deixamos de falar ou de colocar limites, dizemos que o fazemos em nome de “poupar alguém daquilo que é”.
É justamente quando começam os desajustes de relação, porque quando “poupamos”, nós também subimos pro lugar de “mãe ou pai” daquela pessoa, deixando de tratá-la como adulta.
Ou seja, fingimos estar numa relação de amor incondicional entre pais e filhos, porque secretamente (e inconscientemente) não queremos nos expor aos riscos da relação entre iguais – que confere a todos iguais poderes e liberdades. Simplesmente porque é mais fácil e seguro permanecer nas falsas e limitadas garantias do binômio “pais e filhos”.
O curioso é que, ao fazer isso, saímos do lugar adulto também porque ninguém se arroga desta forma sem estar profundamente identificado com suas zonas de inseguranças, recalques e exigências.
Afinal, em termos de relações entre iguais, também “não tem almoço grátis”: assim, quem age como pai, cobra como filho.
Em outras palavras, quem negocia a aprovação do outro, poupa o outro, é porque não suporta deixar de ser aprovado e poupado também.
Assim sendo, a honestidade comigo mesma, a percepção dos meus próprios limites e a comunicação rápida (e, se possível, serena) destes é a melhor forma de tratar o outro feito adulto e expor-me a ser tratada em igual medida.
Limites frustram algumas vezes sim, e libertam também. Tudo que a criança emocional mais precisa para amadurecer é aprender a elaborar a frustração como entendimento e respeito profundo pelo outro.
Em consonância com estas compreensões, recebi um texto estes dias que é atribuído ao filósofo e psicoterapeuta Bert Hellinger e que magistralmente resume esta visão de respeito entre adultos:
“Respeitar significa, antes de tudo, reconhecer. Respeitar uma pessoa é reconhecer que ela existe, que é como é, e que é certa da maneira como é.
Isso pressupõe que eu me respeite da mesma forma – que eu reconheça que existo, que sou como sou e que, tal como sou, também sou certo.
Quando respeito a mim e ao outro dessa maneira, renuncio a construir uma imagem de como deveríamos ser. Sem essa imagem não existe juízo sobre o que seria melhor. Nenhuma imagem construída se interpõe entre mim e a realidade, tal como ela se mostra.
Isso possibilita um segundo elemento, que também pertence ao respeito: eu amo o real, tal como ele se mostra. Isto significa, antes de tudo, que me amo tal como sou, amo o outro tal como ele é, e amo a maneira de sermos diferentes.
O respeito inclui ainda um terceiro elemento, talvez o mais belo: eu me alegro com o real, tal como se manifesta. Alegro-me comigo tal como sou; alegro-me com o outro, tal como ele é, e alegro-me com o fato de que sou diferente dele e ele é também de mim.
Esse respeito mantém distância. Ele não invade o outro e não permite que o outro me invada, me imponha alguma coisa ou disponha de mim de acordo com sua imagem. Ele torna possível que nos respeitemos sem nada querer um do outro.
Quando precisamos ou queremos algo, um do outro, devemos ainda questionar um quarto ponto: nós nos promovemos mutuamente ou inibimos o desenvolvimento nosso ou do outro?
Se, da forma como somos, impedimos nosso desenvolvimento ou o do outro, o respeito nos separa, ao invés de nos aproximar. Nesse caso, devemos cuidar para que cada um siga o seu próprio caminho e se afaste.
Com isso, o amor e o contentamento por mim e pelo outro se aprofundam, em vez de diminuir. Por que? Porque o amor e a alegria são tranquilos, como o respeito.”