Carta à Sombra

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Amada Sombra,

Conduzida por Teu bondoso coração, eu quero expressar meu abraço *para* Ti.

Note bem este *para*: Mais do que abraçar-Te, é uma expressão desta entrega pura, *para Você*, doce amada.

Negar-Te é negar a vida em Si mesma.

Pedagógica, Tu ensina sobre o quanto é maravilhoso dedicar este mesmo abraço, também, *para* a Luz.

Ao encarar a realidade natural, pura, de encarnada que sou e estou, me estupefato: *Quem não tem Sombra, não tem matéria!*

Quem não tem Sombra, não pisa nesta Terra Sagrada, não suja a sola do pé com a poeira vermelha deste Cerrado Central em que habito.

Solo bendito, ora grama macia, ora areia de praia, ora quentura gostosa em pedras de cachoeira…

Amores da Terra, ofertados e expressos em texturas e terrenos generosos, a formosamente moldarem-se e acomodarem:
Nascentes-ninho, cânions e leitos pra água doce, em rios, brotar, deitar, encantar, cachoeirar, serpentear, fluir…

Sim, amada Sombra, ver-Te inteira, é ver-me inteira, aqui e agora: Inspirando o ar, expirando o ar e me entregando aos Teus processos que me auxiliam a externar e espelhar a minha própria Luz!

Descobrir-me Luz própria, é tomar esta experiência toda pra dentro de mim!

É lançar-me humana, sedenta, após longa travessia no deserto, a um ansiado copo de água fresca.

Sim, Amada…

Descobrir-me Movimento próprio, é mérito Teu – a cada episódio em que tanto mais intensifica o meu sentir, mais Luz posso acessar em Mim, ao desaguar minhas águas internas e, então, no raso e no profundo, me Amar… Ah Mar!

Mar de amor que ora gelado, ora tormentoso, também pode ser morno… carinhoso, abraçando meu corpo em hosanas de gratidão! Até que eu me entregue e me perceba Oceano, Unidade, Imensidão.

Sim, Querida…

Ante o meu Amor declarado e hasteado aos quatro ventos, Benigna e Magnânima, o que Tu, silenciosamente, me diz?

“É a Luz em Ti que me abraça em Mim!”

Te amo, Sombra amiga.
Caminha do meu lado, um tanto mais…

Até que eu e você sejamos Uma…
Sombra e Luz…
Contornos…
Contrastes…
Cores a brilhar
Nos ciclos da Vida!

(Daniela Migliari, 11 de setembro de 2020)

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